sábado, 14 de maio de 2011

Fontes Sociais do Consumismo

      O ato de consumir além das necessidades, de modo supérfluo ou de consumir em função das forças externas que nos induzem, pode ser caracterizado como consumismo. É difícil criticar ou fazer uma análise daquilo que está imerso na nossa própria realidade e é parte diretamente relacionada com nossos hábitos, gostos, atividades profissionais, lazer... praticamente em todo lugar e dominando a cultura mundial.

     Jean Baudrillard, filósofo francês, na sua obra Sociedade do Consumo: Mitos e Estruturas, faz a seguinte consideração sobre essa relação dos objetos no mundo contemporâneo: “É preciso deixar claro desde o início que o consumo é uma forma ativa de se relacionar(não só com objetos, bem com a sociedade e o mundo), uma forma de atividade sistemática e resposta geral que sustenta nosso sistema cultural como um todo”. Na sua obra, aponta as grandes empresas como responsáveis por criarem desejos compulsivos nas pessoas, gerando o apetite irrefreável para o consumo e forjando novas hierarquias que substituem as tradicionais diferenças de classes. O ato de adquirir novos bens, comprar ou de ter coisas, converte-se por esse modo numa forma mítica tribal, originando uma moral dos tempos modernos, adiciona.

    Uma indubitável fonte de indução ao consumismo são os meios de comunicação, os quais, abastecem o sistema capitalista no seu âmago que é o de criar cada vez mais necessidades, por conseguinte, mais soluções e produtos, desencadeando indefinidamente a dinâmica dos meios de produção e fazendo o capital circular. Impressiona o realismo hodierno do seguinte texto criado em 1984: “Cada homem especula sobre como criar no outro uma nova carência, a fim de forçá-lo a um novo sacrifício, colocá-lo em nova sujeição e induzí-lo a um novo modo de fruição e, por isso, de ruína economica.”(Manuscritos economico-filosóficos - Manuscritos de Paris, 1984, Karl Marx).

     Inegavelmente podemos nos deparar nos momentos de lazer, com a indústria fonográfica, do cinema ou do entretenimento, compondo a máquina de indução ao consumo. Subjuga-se a vontade do indivíduo que ao se deparar com seu tempo livre e de lazer, encontrará esse seu momento travestido como momento de consumo. Algo como a culpa incutida por nada fazer versus o imperativo do consumo.


        Quem já trabalhou ou trabalha em alguma grande empresa e que teve oportunidade de acompanhar o surgimento de novas estratégias de indução ao consumo, percebe mais facilmente essa realidade. O bom vendedor de hoje é capaz de fazer uma rápida análise do cliente, descobrindo necessidades que nem mesmo o próprio sabia que tinha...

     Esses mecanismos integram a estrutura da sociedade, sejam eles, os meios de comunicação, o sistema econômico, a própria cultura, a indústria do entretenimento que ao forjarem tentáculos que parecem querer induzir a vontade para ao consumo, implicam em adulterar a identidade do ser, desconstruindo de modo imperceptível seus elementos ontológicos de composição, para o de uma autômato sintetizado e impregnado com o programa Ter em vez do Ser.


         Para culminar essa verborragia, é interessante observar o que a maioria das propagandas de carros vem apresentando. A maneira como é exacerbada o valor da posse de um carro. Temos ali o verdadeiro "o cara" só porque ele tem tal ou tal modelo de tal fabricante. É ou não é totalmente idiotizante?!?


Claro que existem a linha de pensamento genial e bem-humorada, como essa abaixo:






Fontes:
BAUDRILLARD, Jean. Sociedade do Consumo: Sociedade de Consumo:Mitos e Estruturas, Edições 70-Brasil. 2ª ed. 2007.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. 1884. Editora Boitempo: 2004.
Revista Filosofia Conhecimento Prático n. 20 - Você é o que você consome?