sábado, 28 de abril de 2012

Teoria do Conhecimento, a Dúvida e Star Trek

    Acho que um dos principais motivos que me levou a gostar de filosofia foi ficção científica. Seja pela lógica vulcana de Jornada nas Estrelas ou nos livros fabulosos da série Perry Rhodan, o horizonte sem limites, da imaginação pautada pelo crível ou da possibilidade futura no real... sempre foi tudo muito sedutor para mim.

    Quando nos deparamos com certas reflexões desafiadoras, acerca de como viemos parar aqui, o que somos nós, a causa dessa consciência de existirmos... fica inevitável não se aproximar da filosofia.

Como podemos ter certeza se existe um corpo real, fora da nossa mente e não apenas uma representação mental?...


    Platão foi precursor ao criar o Mito da Caverna. E não há como se contagiar com a inspiradora história. Até que ponto sabemos o que de fato representa o real? Quantos véus ainda serão descortinados enquanto nossa espécie existir?... E quantos objetos deixarão de ser sombras e se revelarão facetas de uma realidade maior?!

    A posição questionadora é uma ferramenta que devemos aprender a carregar sempre conosco e não menos importante, aprender quando aplicá-la.

    Como poderemos ter certeza de que existe um corpo real, fora de nossa mente e não apenas uma representação mental que a nenhum objeto físico corresponde? Como ter certeza do que é real?

     Descartes nos jogou um colete salva-vidas nesse sentido chegando ao seu monumental "Discurso do Método". A dúvida e a curiosidade nos leva a fronteiras desafiadoras. A resposta de uma questão invariavelmente leva reprodução de novas questões(como os "Pingos" de Star Trek). A desbravar territórios desconhecidos e cada vez mais querer buscar algo que nos surpreenda, mesmo que para isso, muitas vezes esfregue na nossa face o quanto estávamos errados.

O preço de uma nova resposta muitas vezes será a reprodução de muitas outras... como os Pingos de Jornada  nas Estrelas.


     Numa aula formidável com o professor Alberto Cupani(Ph.D), em Teoria do Conhecimento pela UFSC, aprendi como a intensidade da certeza sobre algum conhecimento, pode proporcionalmente nos levar a cometer erros com a mesma força. Uma lição sem paralelos de humildade com um admirável professor argentino.

 

sábado, 14 de maio de 2011

Fontes Sociais do Consumismo

      O ato de consumir além das necessidades, de modo supérfluo ou de consumir em função das forças externas que nos induzem, pode ser caracterizado como consumismo. É difícil criticar ou fazer uma análise daquilo que está imerso na nossa própria realidade e é parte diretamente relacionada com nossos hábitos, gostos, atividades profissionais, lazer... praticamente em todo lugar e dominando a cultura mundial.

     Jean Baudrillard, filósofo francês, na sua obra Sociedade do Consumo: Mitos e Estruturas, faz a seguinte consideração sobre essa relação dos objetos no mundo contemporâneo: “É preciso deixar claro desde o início que o consumo é uma forma ativa de se relacionar(não só com objetos, bem com a sociedade e o mundo), uma forma de atividade sistemática e resposta geral que sustenta nosso sistema cultural como um todo”. Na sua obra, aponta as grandes empresas como responsáveis por criarem desejos compulsivos nas pessoas, gerando o apetite irrefreável para o consumo e forjando novas hierarquias que substituem as tradicionais diferenças de classes. O ato de adquirir novos bens, comprar ou de ter coisas, converte-se por esse modo numa forma mítica tribal, originando uma moral dos tempos modernos, adiciona.

    Uma indubitável fonte de indução ao consumismo são os meios de comunicação, os quais, abastecem o sistema capitalista no seu âmago que é o de criar cada vez mais necessidades, por conseguinte, mais soluções e produtos, desencadeando indefinidamente a dinâmica dos meios de produção e fazendo o capital circular. Impressiona o realismo hodierno do seguinte texto criado em 1984: “Cada homem especula sobre como criar no outro uma nova carência, a fim de forçá-lo a um novo sacrifício, colocá-lo em nova sujeição e induzí-lo a um novo modo de fruição e, por isso, de ruína economica.”(Manuscritos economico-filosóficos - Manuscritos de Paris, 1984, Karl Marx).

     Inegavelmente podemos nos deparar nos momentos de lazer, com a indústria fonográfica, do cinema ou do entretenimento, compondo a máquina de indução ao consumo. Subjuga-se a vontade do indivíduo que ao se deparar com seu tempo livre e de lazer, encontrará esse seu momento travestido como momento de consumo. Algo como a culpa incutida por nada fazer versus o imperativo do consumo.


        Quem já trabalhou ou trabalha em alguma grande empresa e que teve oportunidade de acompanhar o surgimento de novas estratégias de indução ao consumo, percebe mais facilmente essa realidade. O bom vendedor de hoje é capaz de fazer uma rápida análise do cliente, descobrindo necessidades que nem mesmo o próprio sabia que tinha...

     Esses mecanismos integram a estrutura da sociedade, sejam eles, os meios de comunicação, o sistema econômico, a própria cultura, a indústria do entretenimento que ao forjarem tentáculos que parecem querer induzir a vontade para ao consumo, implicam em adulterar a identidade do ser, desconstruindo de modo imperceptível seus elementos ontológicos de composição, para o de uma autômato sintetizado e impregnado com o programa Ter em vez do Ser.


         Para culminar essa verborragia, é interessante observar o que a maioria das propagandas de carros vem apresentando. A maneira como é exacerbada o valor da posse de um carro. Temos ali o verdadeiro "o cara" só porque ele tem tal ou tal modelo de tal fabricante. É ou não é totalmente idiotizante?!?


Claro que existem a linha de pensamento genial e bem-humorada, como essa abaixo:






Fontes:
BAUDRILLARD, Jean. Sociedade do Consumo: Sociedade de Consumo:Mitos e Estruturas, Edições 70-Brasil. 2ª ed. 2007.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. 1884. Editora Boitempo: 2004.
Revista Filosofia Conhecimento Prático n. 20 - Você é o que você consome?

sábado, 17 de maio de 2008

Por que estudar Filosofia?




É difícil compreender uma pessoa vivendo toda sua vida sem atravessar por momentos profundos de críticas ou reflexões sobre a realidade ou qual o sentido da própria existência(se é que há algum).







De repente existimos. Uma consciência se forma e na medida que vamos constituindo nossa forma de ser e maneira de pensar, mais e mais questionamentos vão se formando sobre o funcionamento da lógica de tudo e o desenrolar das manifestações de consciência sobre o mundo.








Numa introdução ao estudo da Filosofia apresentada por Russell, verifica-se a Filosofia como uma área de estudo voltada para o terreno não abrangido pela Ciência e pela Teologia. Se por um lado a Ciência vem demonstrando que a humanidade conhece bem menos do que gostaria, por outro a segurança oferecida pela Teologia através de seus dogmas já parece não mais satisfazer o espírito humano. É como se a humanidade passasse a suspeitar mais daquilo que lhe é oferecido de pronto ou dado simplesmente sem passar pelo escrutínio da razão. O autor ainda ressalta como há uma intensa relação no modo de vida de uma sociedade e na maneira como essa entende a verdade ou a vida.






Há uma forma de pensar mais certa? Por que temos a consciência? Há algo equivalente a um Deus criador e onipotente por trás de tudo? Seria tudo o que vivemos uma ilusão? Será a única certeza de tudo que um dia iremos morrer?




O primeiro passo para conhecimento parece ser, aprender a fazer as perguntas certas, questionar convenções, aprender o que é um argumento, uma opinião ou uma falácia. Ao estudar Filosofia, invevitavelmente esses serão passos importantes, mas não há um fim visível nessa caminhada. Não há soluções ou respostas para grandes questões na Filosofia. Há um profundo estudo sobre os modos de pensar. Modelos, estruturas ou paradigmas de pensamento. Provavelmente um e outro método irão lhe parecer mais adequados que outros, mas não importa, estar continuamente curioso e engajado quanto ao desenvolvimento do modo de pensar sim. A humanidade precisa mais do que nunca disso, para a própria sobrevivência.